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Porque é que a comida saudável tem de ser deliciosa




20 de janeiro de 2025, dia da festa das Fogaceiras, feriado municipal no concelho da Feira. Por cá mantemos a tradição de celebrar a memória de um povo com um alimento. Uma tradição que ser cumpre não por ser religiosa mas por se deliciosa. À boleia da fogaça explico porque é que a comida saudável tem de ser deliciosa. Celebre connosco, os feirenses, a simplicidade de um alimento que continua a unir a comunidade de um dos maiores concelhos do país.



Na saúde e na doença


Evoluímos como sociedade à medida que a nossa compreensão de expande e ficamos capazes de integrar no senso comum o que antes era desconhecido (incompreendido).


Durante séculos, na Europa, as doenças eram associadas a castigos divinos. Estas crenças, fortemente confirmadas pelas autoridades eclesiásticas (pelos padres católicos) levavam a população a oferecer grandes dádivas à igreja. E esta é uma das razões do vasto património da igreja católica.


Na icónica Vila da Feira, em pleno século XVI, começou-se uma tradição de oferecer alimento a um santo para “pagar” a deus por livrar a população da doença. Esse alimento simples, mas prestigiado foi a fogaça.


Atualmente, sabemos que vírus, bactérias, inflamações estão na origem de múltiplas doenças que podem disseminar-se pela população de uma dada região. A favor destas descobertas científicas estão as doenças sazonais, como as gripes, com as quais muitos são contagiados.

Antes da ciência explicar os processos de contaminação e da descoberta dos micróbios, a culpa era de deus. Para pedir a deus que fosse bondoso, as comunidades recorriam a pessoas cujas vidas foram santificadas.


A santificação era uma forma de estratificação social. Garantia que nem todos tinham acesso direto a deus, apenas aqueles que cumpriam as regras definidas pela instituição mercantil que foi, e é, a igreja católica.


A doença generalizada de uma comunidade foi canalizada para o recebimento de benefícios religiosos. O desespero e sofrimento humano usado para manipular as perceções e fazer de deus um comerciante, o que é justo. Apenas há um senão: para que quer deus fogaças, ou qualquer sacrifício humano?


Se calhar não quer nada disso, digo eu.


No sofrimento não há desenvolvimento


Atualmente, esta festa tem pouco de religiosa. A fogaça é apreciada em pequenas celebrações familiares ao longo de todo o ano, e poucos são os que participam nas cerimónias de 20 de Janeiro com fervor religioso. A festa municipal é um pretexto para um passeio pelas estradas da Feira ou para fazer qualquer outra coisa que nada tem a ver com o feriado.


Já lá vão os tempos em que o martírio era bem visto.


Na realidade o martírio foi incentivado durante séculos, por ser uma forma de obediência absoluta às regras da igreja católica. As pessoas viviam para cumprir as regras que lhes eram impostas, em nome de um deus que, ao que parece, apreciava o sofrimento humano.


Na modernidade do século XXI desincentivamos o suicídio e desencorajamos escolhas de vida que promovam o sofrimento. A diplomacia e tolerância são valores muito apreciados.


A ciência mostrou-nos que as doenças surgem de forma natural e que podem ser curadas por medicamentos, sejam eles naturais e/ou comprados na farmácia, e não por oferendas a pessoas que foram mortas há séculos pelos dos soldados romanos.


Se segue este blogue há algum tempo, não se vai surpreender se eu lhe disser que a história do santo está mal contada. Há datas que não batem certo e relatos que não fazem sentido. Ao que parece a história de S. Sebastião é a compilação de várias práticas comuns à época em que ele viveu. Uma época em que a igreja católica buscava santos com ardor para servirem de influenciadores para os crentes – a rede social da altura era a missa, era uma rede local e só um pequeno número de pessoas fazia publicações, todos os outros apenas ouviam. Os likes eram a repetição das orações e rituais. Tal como hoje, muitos likes eram falsos.


O desenvolvimento integral é um caminho para ser feliz e não para o martírio


O objetivo da humanidade é expandir a consciência (ou espirito) para que vivamos em paz e harmonia. Muito embora todas as vidas tenham desafios que necessitam de ser superados, não é no sofrimento que se encontra a transcendência. Pelo contrário, cada ser humano deve sair do sofrimento para conseguir evoluir e expandir a sua consciência, a sua espiritualidade.


A evolução humana individual e social necessita de pessoas saudáveis para construir um mundo melhor. Construir um mundo melhor não implica um novo big bang, mas antes a reorganização dos processos sistémicos que estão a destruir o planeta e a saúde humana ao mesmo tempo.


Um estilo de vida ecológico é reflexo de uma pessoa espiritual.

Tudo o que faz bem à saúde do planeta, faz maravilhas pela saúde humana.


Um dos pilares da saúde é a alimentação e sob o pretexto das forgaceiras, quero dizer-lhe por que é que a comida saudável tem de ser deliciosa. Isto acontece porque a comida deliciosa transforma a refeição numa experiência de desenvolvimento integral e, inclusive, numa experiência espiritual.


Há estudos científicos que revelam que quando comemos algo de que gostamos o nosso corpo absorve mais nutrientes como o ferro (fundamental para a fixação do oxigénio), do que quando não gostamos do que comemos. Por outro lado, se comemos sem prestar atenção ao sabor dos alimentos, ou se não gostarmos da comida, a absorção é menor e a digestão mais difícil.


Conhece a expressão “somos o que comemos”? Não é verdade, somos o que absorvemos na digestão.

A saúde digestiva está ligada ao prazer que retiramos dos alimentos e das refeições que partilhamos. As celebrações são sempre momentos em que partilhamos os alimentos que mais gostamos, com as pessoas de quem gostamos (ou deviam ser…).


Ao ressignificar a tradição celebro, a cada 20 de janeiro, a minha história familiar. As histórias de infância em torno da fogaça, as alegrias e as peripécias. É o sabor da fogaça com manteiga, com presunto, queijo e, claro, vinho do Porto, que faz com que essas memórias saltem do passado e traz de volta sentimentos de felicidade.


A felicidade torna-nos seres mais inteiros e isso traduz-se em saúde, beleza, produtividade no trabalho, inovação e criatividade.


Nem toda a comida deliciosa é saudável, mas toda a comida saudável tem de ser deliciosa.

Partilhe uma fogaça, com amor e melhore a sua saúde. Celebre a saúde com alguém especial, quem sabe, talvez comece uma nova tradição.

 

Viva Integralmente,

Andreia

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