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Todos vivemos no planeta terra, todos somos guerreiros nesta luta contra a poluição e a favor da saúde planetária.
A forma como lutamos por nós mesmos, pela nossa saúde importa; pois tudo o que danifica a saúde do planeta deteriora a saúde humana, e tudo o que melhora a saúde do planeta melhora as condições de saúde humanas.
A minha perceção de como combater eficazmente a emergência climática é posta em prática todos os dias. Compreendo que um problema global como este não se resolve apenas com grandes soluções politicas, mas também com as pequenas revoluções ecológicas que fazemos nos nossos estilos de vida.
Terapia da Fala e Autismo, o início da intervenção sob o paradigma do desenvolvimento integral
Autismo um mistério a ser desvendado
Quando comecei a trabalhar como terapeuta da fala, sabia tanto sobre autismo como um lenhador sabe sobre os sentimentos das árvores.
O meu primeiro caso clínico com diagnóstico de autismo foi o Gil (o nome é fictício, para proteger a sua privacidade). Por norma, trabalhava com a presença dos pais, mas o Gil ia às consultas sozinho, os pais tinham sempre coisas a fazer na vila, conversávamos no fim da terapia.
A verdade é que não havia muito a dizer. Aplicava o que tinha aprendido no curso e nada parecia resultar. Os ganhos ao longo do tempo foram de aumento do contacto ocular, colaboração em tarefas de encaixe e associação de iguais, mas nada que se traduzisse em melhores desempenhos na comunicação.
Na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto, onde me formei - atual Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto - aprendi o que é o autismo, os seus sintomas, as abordagens cognitivas para promover a comunicação. Aprendi também que o autismo tem uma elevada componente genética e que não tem cura.
Depois, a necessidade de dar resposta às pessoas que a mim confiavam o desenvolvimento dos seus filhos, fez-me procurar mais longe.
Ao trabalhar com pessoas neurodivergentes procurei novas estratégias, novas teorias, mas encontrava sempre as mesmas.
Fiz perguntas e as respostas eram: “ele faz isso porque é autista” ou “ele não faz isso porque é autista”.
"O diagnóstico era sempre a justificação para tudo. E isso não me parecia nada verdadeiro."
A minha grande inquietação sempre foi “será que não é ao contrário? Ele é autista porque não faz isto ou aquilo e porque faz X, Y, e Z quando não o devia fazer?” E sendo assim, porque é que ele faz umas coisas, e não faz outras? Ou seja, qual/quais seriam as causas dos sintomas que o Gil apresentava? Seria a genética a justificação mais acertada?
Estas perguntas ficaram muitos anos sem resposta. Lembro-me que me sentia frustrada quando trabalhava com o Gil, porque sentia que não estava a fazer nada. A mesma frustração surgia com outras crianças e adultos institucionalizados que tinham o diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo (PEA).
Após dois ou três anos letivos, o Gil deixou de fazer terapia da fala comigo, porque uma Unidade de Autismo abriu na escola da sua área de residência. Quando os pais me transmitiram essa decisão, senti um peso a sair de cima dos meus ombros. Pensei que talvez na unidade ele fizesse mais progressos.
Os anos passaram e outras crianças com autismo foram chegando até mim. Já não trabalhava na instituição onde tinha tratado o Gil, quando um menino que acompanhava foi para a mesma unidade de autismo que o Gil frequentava para iniciar o seu percurso escolar. Para auxiliar a equipa educativa, foi marcada uma reunião com os profissionais que acompanhavam o Eduardo nas instalações da unidade. Eu ia deslocar-me à Unidade.
Ao entrar na sala, mal cumprimentei as educadoras, o Gil veio na minha direção e deu-me um abraço prolongado.
Nesse momento pensei: “devo ter feito alguma coisa bem.” Tinham-se passado vários anos desde a última vez que tinha estado com o Gil, e ele lembrava-se. E eu não sabia porquê… ia demorar mais alguns anos a obter a resposta para essa pergunta.
As soluções começaram a aparecer
Por alguma razão que desconheço ainda, tinha a mania de assinar os livros que comprava e colocar a da data.
Novembro de 2013 (está escrito com a minha letra) foi quando comecei a ler o livro que me revelou uma perspetiva integral sobre o autismo e respondeu a muitas dúvidas, algumas das quais eu nem sabia que tinha.
O livro chama-se The Autism Revolution e foi escrito por uma neurologista da Escola de Medicina de Harvard.
O que o trabalho da Dra. Martha Herbert nos revela é que o autismo não é uma condição estática resultante de uma limitação cognitiva programada nos genes das crianças, e destinada a permanecer como um diagnóstico para toda a vida. Em vez disso, resulta de uma cascata de eventos percecionados como menores, e muito frequentemente negligenciados por médicos e terapeutas. Ela valoriza sobretudo os sintomas físicos das crianças com autismo: a ansiedade, a sobrecarga sensorial, as alterações de sono, doenças frequentes ou até crises epiléticas. Tudo aquilo que era visto como consequência do autismo, ela aponta como causas conjuntas para que o diagnóstico de perturbação do espetro do autismo seja definido.
A leitura deste livro foi o primeiro passo para aquilo que viria a ser a minha abordagem integral na terapia da fala com crianças com perturbações do espetro do autismo.
Gradualmente, desenhei as orientações para os pais das crianças que trato para a alimentação, respiração e movimento como base do desenvolvimento integral de cada uma dessas crianças.
Se acompanha o meu blogue Integralmente, vai perceber que as áreas que suportam o desenvolvimento físico no autismo são os 3 pilares da saúde, que nos suportam a todos. Pode ler sobre isso aqui.
Nos recursos vai encontrar uma checklist com as orientações gerais que dou aos pais das crianças com diagnóstico de perturbação do espetro do autismo quem trabalho. Na terapia da fala, personalizo estas estratégias para cada um dos meus clientes. Com isso, estabelecemos uma base que vai fazer com que as estratégias de comunicação e linguagem tenham muitos e melhores resultados do que as abordagens não-integrais.