Curar não é normalizar
- Andreia Ferreira Campos 
- 6 de out.
- 6 min de leitura

O que é ou não normal? Curar não é normalizar. E que normalidade é essa que carateriza uma sociedade cronicamente doente? Que importância tem a norma para a promoção da saúde? Com a longevidade saudável em vista, este é o segundo artigo da série A arte da Cura. Obrigada por ler e por se responsabilizar pela sua saúde.
O normal é uma medida estatística. É a mais comum das regras e, muitas vezes, não é a nossa melhor opção.
- O normal é ter alguma doença logo após os 40 anos.
Cada vez mais, as doenças crónicas surgem em idades mais jovens. Temos uma sociedade em que os adolescentes estão a ficar obesos, diabéticos, hipertensos e com uma série de doenças que, não há muitas décadas, seriam de pessoas com mais de 60 anos. Esta está a tornar-se a norma. Este normal não é nada bom. Porque havíamos de querer ser normais?
A norma é começar a ter alguma dor, aqui ou além, algures na década dos 40 anos. As rugas são normais nesta idade (pelos vistos!), a flacidez é normal, a diminuição da energia é normal. Mas pelo menos, também é normal ficarmos mais sábios. Pelo menos isso…
É então que surgem as expressões “se eu fosse mais nova/o e soubesse o que sei hoje…”. Estas frases acabam com alguma coisa que não foi feita e que as pessoas gostariam de fazer, mas acham que já não se adequa à idade, por não ser normal.
Sabe que existem exceções na nossa sociedade, cronicamente doente?
As exceções são as pessoas que não se queixam com dores persistentes, que não têm alterações de sono, que não frequentam os serviços de saúde há anos (talvez um check-up a cada 2 ou 3 anos) e que são saudáveis.
As exceções são as pessoas que vão fazer tratamentos termais sem estarem doentes, porque querem manter a saúde. A norma é tratar o que já está doente, ou seja tratar a doença e não a saúde.
As exceções promovem a cura ativa do corpo e da mente, nos seus rituais diários, por isso preservam a saúde e face às doenças, curam mais depressa.
Acho que percebeu a ideia. E que concorda que não há grande vantagem em ser normal.
A esperança média de vida está aumentar e as previsões são de cada vez mais pessoas a chegar e passar os 100 anos. Ser normal nestas idades mais avançadas não é nada bom, por implicar ter uma série de doenças crónicas e viver em sofrimento.
A longevidade saudável é o que ambicionamos e, para a viver, temos de olhar não para as normas e as médias, mas para as exceções e os melhores dos melhores.
Mas por onde começar?
- O normal é a produção industrial de alimentos.
Pessoalmente, considero que a forma mais inteligente de começar a criar saúde é sempre pela alimentação.
Comemos todos os dias, ao criamos hábitos saudáveis estamos a cultivar saúde a cada refeição. Sem esforço e com prazer, pois a alimentação para ser saudável tem de ser deliciosa.
Uma aventura pelo capitalismo agropecuário: venha daí.
Quando alguém me diz que come bem, a minha questão é sempre “come alimentos biológicos ou de produção industrial?”.
Sejamos realistas, a maioria das pessoas não faz ideia de como se produzem os alimentos que estão à venda nas prateleiras dos supermercados. O normal é cada um pegar no que lhe agrada mais, de acordo com os seus rendimentos e gostos pessoais, e não pensar mais nisso. Comida é comida e cada vez as pessoas comem mais.
Surpreenda-se quando lhe digo que há uma nova forma de desnutrição. Pessoas que comem muito mas não têm os nutrientes necessários para a manutenção da vida. Estas são as pessoas que parece que estão sempre com fome e que muito facilmente ficam com excesso de peso, no entanto estão com défices de nutrientes.
A industrialização da agropecuária fez com que os alimentos, quer vegetais, quer de origem animal, fossem produzidos em muito menos tempo do que os ciclos naturais de crescimento. Para isso, são acrescentados químicos à alimentação de plantas e animais que aceleram o seu crescimento.
A questão é que os alimentos têm imensa água e uma baixa densidade de nutrientes. Os alimentos de produção industrial não saciam a fome porque têm muita água e pouca diversidade de micronutrientes.
Tanto as plantas como os animais vão buscar os nutrientes ao solo. As plantas absorvem os nutrientes, os animais comem as plantas.
O uso de fertilizantes, herbicidas, pesticidas nas produções agrícolas, bem como a utilização intensiva dos solos faz com que a biodiversidade de bactérias, fungos e insetos que nutre o solo morra. Solos estéreis não produzem alimentos de qualidade.
A agricultura regenerativa preocupa-se com a manutenção da vida nos solos, para que permaneçam férteis, para que produzam alimentos em quantidade e qualidade.
Os alimentos biológicos são os que nos garantem uma maior densidade de nutrientes. Pela forma como são produzidos, trazem consigo o sabor de “antigamente”. O sabor dos alimentos quando ainda não eram produzidos de forma industrial, numa agricultura intensiva. O sabor dos alimentos que colhíamos das árvores do quintal das nossas avós, no meu caso, no quintal das minhas tias.
O mesmo acontece com os alimentos de origem animal, bio é a melhor opção. Os animais produzidos em "fábricas" têm de crescer rápido para gerar lucros e abastecer as prateleiras dos supermercados. Por isso, carnes e peixes têm menos sabor porque têm menos nutrientes e mais água. Facilmente, observa isso quando coloca um pedaço de carne no tacho e vê o seu tamanho diminuir para metade. A água evapora-se e o que resta ainda vem cheio de hormonas e antibióticos, o que promove inflamações e desequilíbrios hormonais em quem a come.
A resposta para este problema de saúde pública que começa na alimentação é que cada pessoa, cada família opte por comprar alimentos biológicos de acordo com as suas possibilidades financeiras. Mesmo que mude apenas os iogurtes para iogurtes bio, já vai fazer diferença na saúde e quase não altera o preço que paga.
O investimento em saúde a longo prazo vai requerer o uso de suplementos adequados a si.
A indústria de suplementos também tem muito de industrial e, muitas vezes, pouca ou nenhuma evidência científica.
Neste caso, a questão prende-se com a capacidade de absorção dos suplementos pelo corpo. Os suplementos químicos nem sempre são absorvidos, e muitas vezes vão mesmo diretamente para a sanita. Pelo que o efeito é nenhum, ou quase nenhum.
A biodisponibilidade dos suplementos é que faz com que o corpo os consiga absorver no processo digestivo. Mais uma vez, a suplementação biológica é mesmo a que nos garante melhores resultados.
Como os suplementos são alimentos condensados, conseguem dar ao nosso corpo a nutrição que nem sempre obtemos através da alimentação.
«Está muito bem Andreia, mas antigamente, quando a comida era naturalmente biológica, as pessoas não tomavam suplementos!»
Este é um argumento que ouço com frequência, pois também recomendo suplementos para algumas das crianças que acompanho em terapia da fala, principalmente os casos mais graves (são quase todos…).
A suplementação tem de ser adequada a cada caso, e nas crianças justifica-se por terem uma maior necessidade de nutrientes, visto que queremos acelerar o desenvolvimento para que superem as suas dificuldades.
Nestes casos temos duas razões para escolher uma suplementação natural, por um lado a baixa densidade de nutrientes dos alimentos industriais, por outro a intensa demanda de nutrientes que as terapias colocam ao sistema nervoso (ao corpo em geral).
As crianças com alterações um desenvolvimento atípico tem necessidades atípicas também ao nível nutricional.
Antigamente, as pessoas recorriam a uma forma diferente de suplementação. As infusões de plantas, bagas e cogumelos que eram usadas tanto para tratar doenças, como para preservar a saúde. Essa é uma arte que se tem perdido, mas que está a ser recuperada por nichos de pessoas que buscam uma maior harmonia com a natureza.
As farmácias naturais e a cosmética natural estão em crescimento pelos resultados que cada pessoa sente na pele. Mais uma vez a resposta é Bio.
E depois… vivemos na complexidade. Desenvolvemo-nos numa sociedade cada vez mais complexa e exigente. As exigências traduzem-se em maior uso de capacidades cognitivas (logo mais nutrientes), regulação da atenção face a múltiplos estímulos para nos concentrarmos uma tarefa específica (mais nutrientes), poluição e agressões constantes ao sistema imunitário (necessidade de mais nutrientes), etc…
Se leu até aqui acho que já percebeu a ideia.
Para curar das utilizações intensivas do corpo e da mente vai necessitar de dar ao seu corpo os nutrientes que alimentam a cura, para promover os processos de desintoxicação e regeneração do corpo, bem como a utilização intensiva das funções cognitivas para trabalhar e aprender mais rápido.
A saúde cultiva-se nos pequenos hábitos que preenchem os dias. Mais do que mudanças radicais, promova pequenas mudanças naquilo que faz todos os dias.
Viva integralmente,
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