O nutriente desconhecido
- Andreia Ferreira Campos
- 6 de fev.
- 6 min de leitura
Atualizado: 26 de fev.

O movimento como nutrição não é a receita convencional que avia na farmácia. Este é o nutriente desconhecido do seu plano de saúde? O que recebe da forma como se move que promove a saúde e o desenvolvimento integral? A sua respiração é influenciada pela força que usa, pela postura, pela dor e pela alegria que sente. A digestão fica facilitada pelo movimento e lenta quando passa o dia à secretária ou no sofá. Continue a ler para desvendar o tipo de informação que o movimento dá ao cérebro que regula funções físicas e mentais.
A regulação da energia
A maioria das crenças são enraizadas em experiências passadas, nem sempre essas experiências são pessoais. Viver em comunidade implica receber as crenças dominantes pela via cultural.
O que faz com que as inovações encontrem alguma resistência quando embatem de frente contra as crenças que estão fortemente enterradas na cultura, como uma cápsula do tempo que não é aberta há… décadas? séculos? em alguns casos, milénios?
A interconexão de que dispomos na sociedade global devia facilitar a reestruturação de crenças e mitos que não fazem qualquer sentido à luz do conhecimento atual, mas isso nem sempre acontece. Acontece menos ainda quando a verdade revelada pelo conhecimento científico mexe com hábitos pessoais, com os automatismos que fazem parte das rotinas que temos desde de que nos lembramos de ser gente.
Um exemplo simples, experimente mudar o que come ao pequeno-almoço. Agora faça isso todos os dias. Vai notar imediatamente as objeções a surgirem na sua mente. Detestamos mexer nas rotinas, mesmo quando as vantagens são óbvias, porque estamos programados para agir sem pensar quando nos sentimos seguros. Essa é a função das rotinas: dar a sensação de segurança.
Na terapia da fala, uma das abordagens mais eficazes para promover o desenvolvimento integral de crianças e jovens é introduzir estratégias de comunicação, linguagem ou fala nas suas rotinas. A sensação de segurança vai consolidar a aprendizagem. Este é um trabalho que só pode ser feito em parceria com os pais. O segredo não é mudar a rotina, é incluir uma pequena tarefa na rotina que já está instalada.

O desafio de incluir mais movimento na vida
Incluir mais movimento na vida das pessoas é um desafio de saúde pública, com benefícios imediatos na vida das pessoas, nas contas do SNS, na produtividade do país.
A questão é que o movimento não é explicado como promotor de saúde integral. A maior parte das vezes é vendido como o castigo por se estar doente, com excesso de peso, com mau humor, e outras coisas pouco bonitas como estas.
Se quer comprar algo, certamente não pergunta a quem vende “o que é que isto me ajuda a não ter ou a não estar?” A pergunta certa a fazer quando vai às compras (e, neste caso, a maioria das pessoas faz a pergunta certa) é: “para que é que isto serve?” e a pergunta que se segue é “como é que funciona?”.
É amplamente sabido que o movimento permite a promoção da saúde, por isso foco-me na derradeira questão: como é que o movimento constrói saúde?
Sempre que se mexe dá informação ao cérebro sobre o que sente. São as sensações que fazem a ligação entre o que se passa à sua volta, no mundo em que habita, e o que se passa na sua cabeça – sim, as sensações ligam o que pensa e o que sabe.
Sentir mais é a vantagem competitiva das pessoas que ambicionam maiores níveis de inteligência. A inteligência divergente que permite altos níveis de competência na resolução de problemas, na inovação, nos trabalhos mais criativos.
Para sentir mais tem de se mexer mais. E depois, mexer-se menos, mas melhor. Noutro nível de performance, quando o movimento e a respiração estão integrados, a lei do menos-é-mais aplica-se. Iniciantes, mexam-se e prestem atenção aos movimentos.
O que ganha com mais movimento
Contas de supermercado maiores porque fica com mais fome! NÃO! Nada disso!
A regulação do metabolismo para maiores níveis de eficiência é uma das vantagens da prática regular de exercício físico.
O desenvolvimento humano é integral e a base do desenvolvimento é o movimento, que por sua vez influencia a respiração e digestão.
Ao ter uma base sólida toda a estrutura que faz de si a pessoa que é sobe de nível, para níveis mais elevados de performance e sabedoria.
Através da forma como nos movemos recebemos informação que o cérebro transforma em conhecimento. O seu conhecimento é depois confrontado com a prática e transformado em sabedoria. «A verdade é o que funciona», não sei quem disse isso, mas subscrevo (quase sempre).
Uma vida sem movimento
Sem movimento a vida não existe. Para respirar tem de mexer os músculos que permitem a entrada e saída de ar dos pulmões. Para ter ritmo cardíaco o coração tem de se mexer. Para digerir os alimentos os músculos do sistema digestivo têm de funcionar. Para pensar tem de mexer elementos químicos e gerar corrente elétrica entre os neurónios.
Resumindo: não há vida sem movimento.
Num artigo anterior explico a relação entre evolução da consciência e o aumento da liberdade de movimento entre as diferentes formas de vida – pode ler ou reler aqui.
Movimento é produção de energia. A forma como se move define como e onde a sua energia é produzida, tal como numa fábrica.
Eu cresci (literalmente) no meio das rolhas, por isso atrevo-me a fazer a analogia com a indústria da cortiça.
Ao mover-se com elegância e eficácia garante uma energia de maior qualidade, como as rolhas que se destinam aos vinhos melhores, os vinhos que envelhecem bem e ganham qualidade na garrafa.

A diminuição do movimento faz com que a energia que o seu corpo e a sua mente produzem esteja em níveis mais baixos, como as rolhas médias ou fracas. Estas rolhas têm mais defeitos, que se traduzem em irregularidades e não conservam tão bem o vinho nas garrafas, por isso destinam-se a vinhos com vida mais curta.
Atualmente, as rolhas mais fracas têm menos venda porque estão em concorrência direta com outros vedantes, como o plástico e as rolhas produzidas com aglomerados de cortiça – grosso modo, para não massar ninguém com os detalhes.
O mesmo acontece com as pessoas com níveis mais baixos de energia, as suas funções profissionais estão a ser automatizadas por robots e ameaçadas pela inteligência artificial.
Na prática da vida humana, pessoas que se movem menos ou de forma pouco eficaz têm menos vida. Isto é válido em múltiplos sentidos:
Sentem menos, pelo que as experiências de vida são menos ricas, vivem na era do normal e o extraordinário destaca-se pouco e por pouco tempo, porque as memórias têm menos intensidade.
São mais frágeis no que toca à saúde física e mental – menos resilientes a longo prazo, o que é relevante face ao desafio da longevidade que a sociedade enfrenta.
São menos inteligentes, no sentido sistémico (capacidade de ver a imagem toda e não apenas uma parte), o que tem implicações nas tomadas de decisão, tanto a nível pessoal como profissional.
Têm menor esperança de vida.
Movimento como nutrição
A linguagem é o elemento agregador das informações que recebe do movimento do seu corpo e que integra na mente. Através da linguagem e da sabedoria subconsciente desenvolve-se a consciência humana.
A sabedoria subconsciente é o registo de eventos que o corpo viveu, o que inclui… sabe o quê?
Claro que já sabe: o conjunto de experiência que cada pessoa tem com o movimento. Aprender novos movimentos expande a consciência (ou seja o espírito) e permite que cada ser humano evolua no seu processo pessoal de desenvolvimento.
Cada aprendizagem para se tornar efetiva necessita de dois elementos: linguagem e movimento (o movimento é considerado em si uma linguagem, mas não vou complicar mais isto). Para aprende uma língua tem de aprender a mexer-se como os falantes nativos dessa língua, bem como as palavras e os seus significados. Para aprende uma competência tem de aprender a fazer (movimento) e saber como e quando deve executar a tarefa ou técnica. Para aprender movimentos novos tem de os colar com a linguagem à memória, para que deixem de ser um instinto e tenha maior controlo sobre a sua execução.
Inclua o nutriente movimento na sua dieta e brilhe com mais intensidade.
Viva integralmente,
Andreia
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